Percorremos a cidade a correr, vimos
coisas de espantar, apreciámos pintura, arquitetura, elevadas produções que
tiram o ser humano dos seus limites e o levam a impossíveis. Ficámos
maravilhados. Ficámos estafados. Parámos num relvado, ao sol, deixámo-nos
invadir através da pele, que absorve o calor suave e doce, comemos, crianças
corriam e riam. Deixámo-nos estar. Respirámos fundo e deixámo-nos estar outra
vez.
Muitos anos depois, não nos lembramos de
uma boa parte dos sítios onde formos, nem das obras que vimos. Preservámos, no
entanto, o cheiro daquela relva, a temperatura e a aragem, as combinações de
luz e de sombra, os sorrisos que trocámos, o apaziguamento que sentimos.
Sentir apaziguamento é algo que se guarda,
na despensa das reservas, a que se volta para comer chocolate.