quinta-feira, 22 de maio de 2014

Apaziguados


Percorremos a cidade a correr, vimos coisas de espantar, apreciámos pintura, arquitetura, elevadas produções que tiram o ser humano dos seus limites e o levam a impossíveis. Ficámos maravilhados. Ficámos estafados. Parámos num relvado, ao sol, deixámo-nos invadir através da pele, que absorve o calor suave e doce, comemos, crianças corriam e riam. Deixámo-nos estar. Respirámos fundo e deixámo-nos estar outra vez. 
Muitos anos depois, não nos lembramos de uma boa parte dos sítios onde formos, nem das obras que vimos. Preservámos, no entanto, o cheiro daquela relva, a temperatura e a aragem, as combinações de luz e de sombra, os sorrisos que trocámos, o apaziguamento que sentimos.
Sentir apaziguamento é algo que se guarda, na despensa das reservas, a que se volta para comer chocolate.

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