quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Já chegou



Havia uma polémica pouco intensa sobre aprender línguas estrangeiras.

A posição clássica, maioritária e obviamente sensata, era a de que aprender línguas, pelo menos a língua franca corrente que é o inglês, era muito importante de um modo geral, indispensável num mundo conectado e imprescindível no mundo (a)nacional da ciência.  
A posição vanguardista, minoritária e obviamente louca era a de que muito rapidamente se tornaria desnecessário aprender língua(s) estrangeira(s), porque a tradução simultânea iria ficar ao alcance imediato das pessoas. De todas, enfim, de quase todas, as pessoas.
Para o desenvolvimento da tradução em massa global contribuiram principalmente a Google, pela iniciativa aliada à dimensão e a colaboração coletiva (crowdsoursing) que a internet torna possível escalar até ao infinito.
A Google pediu-nos, a todos os milhões que pelo mundo inteiro usamos o motor de busca, que o ensinássemos a escrever e depois a falar em várias línguas, potencialmente em todas as línguas. O bebé Google, especialmente dotado, teve a humanidade como professor.
A colaboração coletiva sempre existiu e a internet difundida através de dispositivos móveis, mas também de dispositivos imobilizados, aboliu a distância física, criando a proximidade que é pressuposto dessa colaboração, tornando-a possível a um nível global.

A velocidade a que tudo acontece neste século XXI deve-se, em muito, à disponibilidade do conhecimento que permite que se trabalhe sobre e a par do que outros estão a fazer, progredindo mais e também mais depressa.
A possibilidade de nos entendermos, em qualquer língua, será certamente mais um passo para a aceleração.

A ver se nós, simplesmente humanos, aguentamos a pressão.
Ou, numa perspetiva mais otimista que se justifica olhando para tudo aquilo de que a humanidade tem sido capaz, vamos ver como nós, humanos, aguentamos a pressão. Provavelmente deixando de ser “simplesmente humanos”.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

O futuro vai ser barato – muito barato


Estamos habituados a pagar, muito, pelas coisas básicas de que precisamos para viver e pelas menos básicas que nos habituámos a considerar imprescindíveis. Casa, alimentação, transporte, saúde, educação, entretenimento, lazer, obrigam-nos a trabalhar de modo a não conseguir usufruir devidamente de nenhuma e a nunca ser suficiente o que ganhamos.
Esta realidade vai mudar. Tudo vai ser muito mais barato e acessível. Se isso nos fará trabalhar menos e aproveitar mais, vamos ver.


sexta-feira, 2 de setembro de 2016

We spoke data



Dois designers, um de Londres, outro de Nova Iorque, corresponderam-se através de correio postal, sobre informação do dia a dia, através de sinais, o que deu arte.


terça-feira, 24 de maio de 2016

“Vemos, ouvimos e lemos” e devemos ignorar



“Vemos, ouvimos e lemos” e devemos ignorar. É melhor. O contrário não faz bem à saúde, nem à bolsa. “O que é que eu tenho a ver com isso?”, além de que “o que eu fizer não altera nada” e “já viste o que aconteceu a fulano?”. “Só cumpro ordens”, “faço o que me mandam”, "esquece lá isso", e “eles é que sabem”. Em Roma, em Auschwitz, um pouco por todo o lado e por todos os tempos a banalidade impõe-se. Atualmente vai ajudando a desmoronar uma época de rara prosperidade e paz, pelo menos na Europa.
Poderia ser inevitável. Quase tudo é inevitável. Algumas coisas são simplesmente adiáveis, o que é muito positivo.
A Europa precisava de uma nova utopia. Para isso precisava de crianças e jovens. Os velhos não são aptos para a utopia. Sabem, já sabem, que não vai valer a pena, porque tudo vai continuar na mesma. Só as crianças, os jovens e alguns crescidos absolutamente excecionais sabem que tudo pode ser diferente, melhor e que isso depende de cada um. A Europa quase não tem jovens e muitos dos que tem não são bem europeus, ou não são bem do país europeu em que estão. São filhos e netos de pessoas que vieram de outras paragens e não se sentem de cá, nem de lá. Falta-lhes tudo por terem demais. Ou por verem ter demais. Menos o que faz realmente falta. Não se consegue saber o que é, há tempo a menos e informação a mais.
Não sei como se resolve, nem me parece que tenha solução. Já não sou criança, nem jovem nem, certamente, um crescido excecional. Pode ser que apareça um ou outro que não sejam submersos nesta ficção de democracia que vamos cultivando à falta de saber fazer outra coisa, exceto autoritarismos ainda piores.
Quando olhamos para a História, pelo menos para a parte que conseguimos vislumbrar, nota-se que tudo tem origem em conquistar e defender. Passamos a vida a conquistar, à custa dos outros ou da natureza, ou a defendermo-nos, dos outros ou da natureza. Se estivéssemos quietos era pior. Nada está quieto, nem busões, nem galáxias. Não íamos ser nós, humanos, a exceção, por muito que nos achemos excecionais.
Vermos, ouvirmos e lermos, não adianta. O essencial tem sido mostrado, dito e escrito ao longo de séculos, de milénios. Não é por falta de se saber que não se faz diferente. É porque sim senhor, isso é tudo muito bonito, mas só acontece aos outros. Seja mau, ou seja bom. Entretanto, aproveita-se que “A vida são dois dias e o Carnaval são três.”. Mais no resto do mundo, que na Europa, já que a partir de certa idade deixa de apetecer tanto festas.