terça-feira, 24 de maio de 2016

“Vemos, ouvimos e lemos” e devemos ignorar



“Vemos, ouvimos e lemos” e devemos ignorar. É melhor. O contrário não faz bem à saúde, nem à bolsa. “O que é que eu tenho a ver com isso?”, além de que “o que eu fizer não altera nada” e “já viste o que aconteceu a fulano?”. “Só cumpro ordens”, “faço o que me mandam”, "esquece lá isso", e “eles é que sabem”. Em Roma, em Auschwitz, um pouco por todo o lado e por todos os tempos a banalidade impõe-se. Atualmente vai ajudando a desmoronar uma época de rara prosperidade e paz, pelo menos na Europa.
Poderia ser inevitável. Quase tudo é inevitável. Algumas coisas são simplesmente adiáveis, o que é muito positivo.
A Europa precisava de uma nova utopia. Para isso precisava de crianças e jovens. Os velhos não são aptos para a utopia. Sabem, já sabem, que não vai valer a pena, porque tudo vai continuar na mesma. Só as crianças, os jovens e alguns crescidos absolutamente excecionais sabem que tudo pode ser diferente, melhor e que isso depende de cada um. A Europa quase não tem jovens e muitos dos que tem não são bem europeus, ou não são bem do país europeu em que estão. São filhos e netos de pessoas que vieram de outras paragens e não se sentem de cá, nem de lá. Falta-lhes tudo por terem demais. Ou por verem ter demais. Menos o que faz realmente falta. Não se consegue saber o que é, há tempo a menos e informação a mais.
Não sei como se resolve, nem me parece que tenha solução. Já não sou criança, nem jovem nem, certamente, um crescido excecional. Pode ser que apareça um ou outro que não sejam submersos nesta ficção de democracia que vamos cultivando à falta de saber fazer outra coisa, exceto autoritarismos ainda piores.
Quando olhamos para a História, pelo menos para a parte que conseguimos vislumbrar, nota-se que tudo tem origem em conquistar e defender. Passamos a vida a conquistar, à custa dos outros ou da natureza, ou a defendermo-nos, dos outros ou da natureza. Se estivéssemos quietos era pior. Nada está quieto, nem busões, nem galáxias. Não íamos ser nós, humanos, a exceção, por muito que nos achemos excecionais.
Vermos, ouvirmos e lermos, não adianta. O essencial tem sido mostrado, dito e escrito ao longo de séculos, de milénios. Não é por falta de se saber que não se faz diferente. É porque sim senhor, isso é tudo muito bonito, mas só acontece aos outros. Seja mau, ou seja bom. Entretanto, aproveita-se que “A vida são dois dias e o Carnaval são três.”. Mais no resto do mundo, que na Europa, já que a partir de certa idade deixa de apetecer tanto festas.

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