“Vemos, ouvimos e
lemos” e devemos ignorar. É melhor. O contrário não faz bem à saúde, nem à
bolsa. “O que é que eu tenho a ver com isso?”, além de que “o que eu fizer não
altera nada” e “já viste o que aconteceu a fulano?”. “Só cumpro ordens”, “faço
o que me mandam”, "esquece lá isso", e “eles é que sabem”. Em Roma, em Auschwitz, um pouco por todo
o lado e por todos os tempos a banalidade impõe-se. Atualmente vai ajudando a
desmoronar uma época de rara prosperidade e paz, pelo menos na Europa.
Poderia ser inevitável. Quase
tudo é inevitável. Algumas coisas são simplesmente adiáveis, o que é muito
positivo.
A Europa precisava de uma nova
utopia. Para isso precisava de crianças e jovens. Os velhos não são aptos para
a utopia. Sabem, já sabem, que não vai valer a pena, porque tudo vai continuar
na mesma. Só as crianças, os jovens e alguns crescidos absolutamente
excecionais sabem que tudo pode ser diferente, melhor e que isso depende de
cada um. A Europa quase não tem jovens e muitos dos que tem não são bem
europeus, ou não são bem do país europeu em que estão. São filhos e netos de
pessoas que vieram de outras paragens e não se sentem de cá, nem de lá.
Falta-lhes tudo por terem demais. Ou por verem ter demais. Menos o que faz
realmente falta. Não se consegue saber o que é, há tempo a menos e informação a
mais.
Não sei como se resolve, nem me
parece que tenha solução. Já não sou criança, nem jovem nem, certamente, um
crescido excecional. Pode ser que apareça um ou outro que não sejam submersos
nesta ficção de democracia que vamos cultivando à falta de saber fazer outra
coisa, exceto autoritarismos ainda piores.
Quando olhamos para a História,
pelo menos para a parte que conseguimos vislumbrar, nota-se que tudo tem origem
em conquistar e defender. Passamos a vida a conquistar, à custa dos outros ou
da natureza, ou a defendermo-nos, dos outros ou da natureza. Se estivéssemos
quietos era pior. Nada está quieto, nem busões, nem galáxias. Não íamos ser
nós, humanos, a exceção, por muito que nos achemos excecionais.
Vermos, ouvirmos e lermos,
não adianta. O essencial tem sido mostrado, dito e escrito ao longo de séculos,
de milénios. Não é por falta de se saber que não se faz diferente. É porque sim
senhor, isso é tudo muito bonito, mas só acontece aos outros. Seja mau, ou seja
bom. Entretanto, aproveita-se que “A vida são dois dias e o Carnaval são
três.”. Mais no resto do mundo, que na Europa, já que a partir de certa idade
deixa de apetecer tanto festas.