quarta-feira, 29 de julho de 2015

O cérebro e a nuvem

            

Anda-se a estudar o cérebro, com grandes avanços. Cérebros internacionais reconhecidamente espertos juntam-se em centros de investigação de referência e estudam cérebros, normalmente de ratos, às vezes de homens. Vão chegando a descobertas extraordinárias que ajudam a melhorar a vida dos doentes e a baralhar o conhecimento dos sábios. O funcionamento do cérebro não é linear, a informação não está agrupada em montinhos fofinhos de massa encefálica, unida numa espécie de coral, polvo sem tentáculos, anémona não transparente ou superfície de um planeta distante, talvez o X. Mesmo as imagens, a memória. Uma imagem é composta de elementos que são provenientes de várias áreas, estão armazenados em lobos temporais, parietais e outros tal e tais. Juntando-se tudo sabe-se lá como, mas vai-se sabendo, dá uma cara. Não são álbuns de fotografias, catalogados por datas, famílias, locais, férias, trabalho, etiquetas lógicas para organizar o conhecimento e tomar conta dele. Controlá-lo, porque se está ali é porque ali pertence e não se pensa mais nisso. Pensar cansa um bocadinho, na verdade cansa muito, e arrumar as coisas bem arrumadinhas, diminui a necessidade de pensar sobre elas, sem perceber nada. É assim que se tem vindo a aprender que o cérebro funciona. Caoticamente. Melhor, encontrando ordem e sentido num caos permanente, permanentemente alimentado.

Talvez o mesmo se passe com a nuvem. A nuvem é uma espécie de sítio(s) recente e disseminado que os informáticos e as grandes empresas tecnológicas inventaram e implementaram, de modo a poderem armazenar, tratar e manter disponível a quantidade descomunal de informação que a era digital produz. Serve para recolher a big data. A quantidade de dados é tão grande que não cabe em lado nenhum. É atirada para as caves e os armazéns abandonados ou construídos de propósito e lá fica amontoada, amachucada, amarelecida, ao lado de, à volta e por cima das caixinhas de plásticos transparentes, impecáveis, que por lá estão com os dados estruturados. Tudo é guardado de sempre, para sempre. Guardar sem usar não faz sentido. Para usar é preciso tratar e para tratar vai havendo os algoritmos. Fazem mineração. Consiste em ir buscar ao caos, espalhado por vários sítios físicos, partes de informação que, juntos, vão fazer sentido. Vão, se for caso disso, (re)construir uma imagem.

Não sei porquê, mas encontro semelhanças entre o cérebro e a nuvem.

Este texto foi escrito, parcialmente, em digitalez.   

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